O presidente da CONAMP, Manoel Murrieta, participou da solenidade de abertura do Congresso Estadual da Amperj (Associação do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro). A cerimônia foi realizada no dia 15 de setembro.
“O Ministério Público brasileiro não teria esta formatação se não fosse o movimento classista”, disse Murrieta ao destacar a importância do evento para a instituição. Ele também fez elogios à organização e à relevância da oportunidade de debate entre os membros do MP.
Ao discursar, o presidente da Amperj, Cláudio Henrique Viana, afirmou que, na era digital em que vivemos, é preciso levar em consideração como as inovações repercutirão sobre o dia a dia das pessoas. “A inércia ou demora fará com que as consequências indesejadas caiam sobre nós.” O evento tem como tema “Os Desafios do Ministério Público na Era Digital”. “Este é um encontro de pessoas, a Amperj promove este congresso para refletirmos sobre algumas das mais desafiadoras mudanças em curso no nosso tempo. As coisas mudam de forma muito acelerada. A inovação se espalha como uma epidemia. Vivemos a transformação digital, a febre da inovação disruptiva”, disse Cláudio Henrique.
Palestra inaugural
Após a solenidade, o jornalista e escritor Caco Barcellos proferiu a palestra inaugural. Tendo como tema “Reportagem como Ferramenta de Combate a Fake News”, ele lembrou que as notícias mentirosas sempre existiram.
Segundo Caco Barcellos, em 1972, quando iniciou sua carreira, as “fake news” já existiam, quando a ditadura militar divulgava crimes não cometidos mas confessados sob tortura pelos membros da luta armada. Ele explicou que as “fake news” no Brasil fazem parte de um sistema, que foi trazida por militares norte-americanos da Academia Militar de West Point.
“Quem mais sofre com a notícia mentirosa são as pessoas que fazem parte dos 160 milhões de brasileiros que ganham menos de dois salários mínimos. Eles sofrem pela falta de um sistema de Justiça capaz de atendê-los e a queixa crescente é associada ao nosso desempenho, da imprensa”, afirmou.
Para Caco Barcellos, “temos como dever de ofício estar muito antenados sobre como estão os brasileiros”. No Brasil, 160 milhões de pessoas ganham menos de dois salários e 74 mil com renda acima de R$ 250 mil mensais. “São os extremos que formam o meu modo de ver o mundo”, disse.
Ele relatou como a educação, a saúde e a segurança podem ser vistas por ambos os extremos da sociedade. Enquanto crianças pobres precisam ir de pau-de-arara para a escola, os mais ricos vão de motorista particular em carros blindados. Na área da saúde, citou uma reportagem que fez em que um paciente com câncer levou oito meses para fazer uma quimioterapia, enquanto os mais abastados não esperam nem 48 horas.
Segundo ele, o sistema da “fake news” continua até hoje, desqualificando moralmente quem é morto, sem investigação e sem julgamento. Ele disse que investigou durante sete anos as mortes cometidas pelas forças de segurança de São Paulo.
Nesse tempo, segundo ele, a Polícia Militar de São Paulo havia matado mais de 12 mil pessoas, e ele identificou individualmente 4.200 casos. “Posso afirmar quem é a vítima da PM”, disse. “A certeza é a de que é um sistema. Sempre se culpava um soldado e percebi que a nossa conduta era injusta com esses soldados. Quis provar que era um sistema. Meu processo de investigação sempre foi no front. Acredito que quanto mais longe dos palácios e gabinetes, mas próximo estarei da verdade.”
Criador e diretor do programa Profissão Repórter, exibido na TV Globo há 16 anos, Caco Barcellos se especializou em jornalismo investigativo, documentários e grandes reportagens sobre injustiça social e violência. Entre seus quatro livros publicados, um dos mais conhecidos é “Rota 66”, onde o autor denunciou a existência de um esquadrão da morte na PM de São Paulo.
Com informações e foto da AMPERJ