Por: Andrea Almeida Barros
Cresci ouvindo meu pai me dizer que era preciso respeitar as regras do jogo. E quando falo em jogo me refiro ao bom e velho jogo de canastra ou de pife, ou qualquer jogo de tabuleiro, cujas regras vêm escritas na própria caixa. As regras são, portanto, a 'lei' do jogo.
Disse-me ele várias vezes que só é válido quando se ganha uma partida honestamente, ou seja, sem que se ludibrie o adversário. A vitória deve advir com o esforço próprio, não com o uso de artimanhas. E a conseqüência disso é que às vezes se ganha, em outras se perde. Mas sempre há que se atentar às regras do jogo.
Este ensinamento deve se estender a todos os aspectos da nossa vida. Há que se devolver o troco dado a maior, há que se estudar para a prova difícil do dia seguinte, há que se respeitar o dia dos pagamentos, há que se atender à lei da boa vizinhança, há que se viver de acordo com as leis que nos são impostas... Há que sermos honestos conosco mesmos, pois só assim viveremos em paz.
Passado mais um período eleitoral, percebo que não é o que ocorre com os candidatos e nem com os seus correligionários. Quando há uma disputa em jogo (e eleição é um jogo, em que alguém ganha e alguém perde, tal como a boa e velha partida de canastra) perdem a razão a tal ponto que não enxergam mais a regra do jogo. E por conseqüência, passam a burlá-la, mesmo sabendo que há penalidades para quem não a atende. Mas preferem correr o risco de perder a vitória conquistada porque não atenderam às regras do jogo a jogarem honestamente, ainda que venham a perder a disputa efetivamente.
E se desonestamente se elegem, que exemplo darão aos administrados? Aliás, que exemplo darão a seus filhos? Poderão cobrar destes que sigam as regras do jogo, ainda que se trate de uma simples brincadeira infantil? Ou dirão para fazerem aquilo que dizem, proibindo-os de fazerem o que fazem, sem maiores explicações?
De que adianta a lei eleitoral ser tão rígida a ponto de determinar condutas permitidas e proibidas, se na hora do afã ninguém obedece? Se não se consegue dominar a multidão incontida?
Resta, ainda, alguma alternativa? Acredito que sim. Uma mudança de cultura, certamente.
Há que se ensinar aos nossos filhos a jogarem honestamente, atendendo às regras do jogo, sempre, ainda que venham a perder a partida. O que não se pode fazer é ensiná-los a vencer enganando o adversário. Há que se ensinar a não ser 'o mais esperto', e sim o 'mais correto'. Somente assim se mudará um comportamento de forma generalizada. Mas para isso, é preciso que mudemos, também, o nosso comportamento, pois somos os grandes ídolos de nossos filhos. E não podemos exigir-lhes um comportamento quando o nosso não condiz com aquilo que os ensinamos.
Tarefa árdua, esta nossa, pais na atualidade. Mas da nossa conduta depende o futuro da Nação, a fim de que nos próximos pleitos votem(os) naquele que realmente se esmera para uma campanha que atente para as imposição legais e que tenha uma vida regrada. Que não tente chegar ao poder enganando adversários e que, atingindo o seu objetivo, lute pela coisa pública e a defenda como se sua fosse.
Certamente mudando essa cultura o eleitor saberá distinguir os verdadeiros objetivos de cada candidato e não mais aceitará ser corrompido por eles. Até porque se a administração atender às demandas sociais, não precisará o povo aproveitar-se dos presentinhos que costumam receber nesta época em troca de seu valioso voto.
*Andrea Almeida Barros é promotora de Justiça no Rio Grande do Sul