O presidente da CONAMP, Tarcísio Bonfim, participou da primeira Cúpula dos Procuradores-Gerais dos países do G20 (PG20). O evento, realizado no Rio de Janeiro (RJ), ocorreu de 20 a 22 de outubro. A cúpula reuniu os chefes do Ministério Público de 21 delegações de países do bloco econômico e convidados da Presidência brasileira no G20 em torno de estratégias comuns de combate ao crime organizado transnacional e de proteção do meio ambiente.
Durante a abertura, o secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Ministério das Relações Exteriores, embaixador Mauricio Lyrio, falou que as discussões travadas no encontro dos procuradores-chefes estão alinhadas às prioridades da presidência brasileira no grupo econômico: inclusão social, combate à pobreza e desenvolvimento sustentável.
Lyrio também ressaltou a importância de se definir no âmbito do Ministério Público dos países do bloco medidas para enfrentar os crimes ambientais, sobretudo diante da emergência climática vivida em âmbito global. "Encontros como este desempenham papel essencial para que o G20 dê voz e protagonismo à sociedade civil e às demais esferas do Poder Público. Promover a interlocução entre todos esses grupos é prioridade no G20”, afirmou. Também participaram da mesa de abertura o vice-PGR, Hindenburgo Chateaubriand, e a secretária de Cooperação Internacional, Anamara Osório.
Durante o primeiro dia de reuniões, os procuradores-gerais apresentaram ações desenvolvidas em seus países para o combate à criminalidade e discutiram os desafios comuns enfrentados. A procuradora-geral da África do Sul, Shamila Batohi, país que assumirá a próxima presidência do grupo, afirmou que o país perdeu cerca de 88,6 bilhões de dólares com o fluxo financeiro de práticas ilícitas. “Precisamos unir esforços para defender o estado de direito e responsabilizar os envolvidos, sem medo e de forma independente, longe de interferências políticas”, pontuou. Segundo ela, é necessário fortalecer a cooperação jurídica em busca de ações decisivas para dar uma resposta coletiva a essa ameaça transnacional. Batohi também defendeu a presença de mais mulheres em torno das mesas globais de debate e decisões.
A influência das novas tecnologias na expansão do crime organizado transnacional foi outro ponto levantado pelos participantes. “Os avanços tecnológicos, a inteligência artificial e as redes sociais facilitaram a conduta das redes criminosas”, pontuou a procuradora australiana, Rae Sharp. Segundo ela, em 2021, as práticas criminosas movimentaram 40 bilhões de dólares no país.
O aumento dos crimes praticados pela internet, bem como o tráfico de pessoas, sobretudo para fins de exploração sexual, foram os desafios levantados pelo representante da Noruega, Jorn Maurud. “Precisamos investir no uso de soluções tecnológicas para combater esses crimes”, ressaltou.
Meio ambiente – Durante a cúpula, os participantes também abordaram ações de combate a crimes ambientais, como tráfico de animais silvestres, desmatamento, garimpo ilegal, transporte irregular de resíduos, entre outros. O PGR angolano, Hélder Gróz, afirmou que o país tem dado passos significativos nessa temática, a partir da elaboração de um plano estratégico para combate aos ilícitos cometidos contra o meio ambiente, com auxílio do Brasil.
Já o procurador-geral da Rússia, Igor Krasnov, falou sobre a criação de unidades especializadas no combate a crimes ambientais, que buscam responsabilizar os envolvidos e fomentar a adoção de medidas compensatórias. Com isso, o Ministério Público russo tem conseguido resultados efetivos, como ações de reflorestamento, que já superaram os desmatamentos registados no país. O procurador-geral da Arábia Saudita, Sheikh Almuejab, informou que o país também tem empreendido esforços para preservar a biodiversidade e reduzir os impactos climáticos no Oriente Médio.
Cooperação regional - Os procuradores-gerais da Argentina e do Chile ressaltaram a importância do trabalho de cooperação jurídica que vem sendo feito em âmbito regional, pelos Ministérios Públicos de países ibero-americanos e do Mercosul. No entanto, lembraram que hoje a criminalidade extrapola essas regiões, sendo necessária uma ação coordenada cada vez mais ampla.
“A cooperação entre vizinhos e países da mesma região, que conseguimos desenvolver ao longo do tempo, já não é mais suficiente para responder ao crime organizado e aos lucros ilícitos, os quais não estão mais restritos a determinado continente e ou região”, afirmou Eduardo Casal, PGR da Argentina. Nesse sentido, defendeu o fortalecimento de instrumentos de cooperação direta, que possibilitam a troca de informações mais ágil, bem como a independência de atuação do Ministério Público.
Com informações e fotos do MPF